quinta-feira, 18 de março de 2010

ESPELHO

Sou prata e exato. Eu não prejulgo.


O que vejo engulo de imediato

Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.

Não sou cruel, tão somente veraz —

O olho de um deusinho, de quatro cantos.

O tempo todo reflito sobre a parede em frente.

É rosa, com manchas. Fitei-a tanto

Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.

Faces e escuridão insistem em nos separar.



Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,

Buscando em domínios meus o que realmente é.

Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.

Vejo suas costas e as reflito fielmente.

Ela me paga em choro e agitação de mãos.

Sou importante para ela. Ela vai e vem.

A cada manhã sua face reveza com a escuridão.

Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha

Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
poesia de Sylvia Plath
tradução de Vinicius Dantas

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